Notícia Jornal do Nordeste edição 28-07-2009
Duas Igrejas assistiu ao último apito do comboio Os azulejos que vão resistindo ao passar dos anos retratam a história da região. A beleza arquitectónica do edifício traduz a importância que a estação de Duas Igrejas, no concelho de Miranda do Douro, teve durante várias décadas. Hoje está votada ao abandono e nem o facto de ter sido o berço do ministro da Administração Interna, Rui Pereira, ajuda à sua recuperação para fins turísticos.
O presidente da Junta de Freguesia de Duas Igrejas, Domingos Ruano, conta que o governante até já passou por ali e prometeu fazer alguma coisa por aquele património, mas os anos vão passando e a estrutura vai-se degradando ao sabor do tempo e dos actos de vandalismo de que tem sido alvo.
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O autarca lembra que já foram efectuadas várias tentativas para adquirir o património à CP, mas sem sucesso. “Há uns anos pediram-nos 80 contos (400 euros) de renda por mês. Quando a empresa é que nos devia pagar para revitalizarmos aquele património”, realça Domingos Ruano.Apesar do comboio ter dado o último apito há mais de três décadas, Duas Igrejas, que era o terminal da Linha do Sabor, guarda, ainda, um património rico em história. A estação, a placa giratória onde virava a automotora e algumas infra-estruturas que serviam de apoio ao comboio, como a grua para encher o comboio de água, prevalecem no local. “Quando vieram tirar os carris, nós pedimos para que nos deixassem a placa giratória, que é uma peça rara”, recorda Ana Miguel, a mulher do último ferroviário que ainda reside na localidade.
José Francisco Miguel, de 66 anos, foi o último chefe da estação de Duas Igrejas. “O meu marido trabalhou cerca de 30 anos no caminho-de- ferro. Entrou como carregador, mas depois passou a chefe de estação. A última em que esteve foi em Duas Igrejas, que encerrou em Outubro de 79, ficando a funcionar, apenas, a automotora de mercadorias”, recorda Ana Miguel.
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O último chefe da estação de Duas Igrejas ainda conta as histórias do tempo em que o comboio ligava o Pocinho ao Planalto.
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Esta habitante ainda mora na zona da estação, onde outrora construiu a sua casa, na expectativa de que a azáfama do comboio se prolongasse no tempo. “Na altura pensávamos que isto ia durar”, confessa.
Com os tempos em que as automotoras descarregavam mercadorias e traziam passageiros até Duas Igrejas bem gravados na memória, Ana Miguel tem pena que o património não seja recuperado, para mostrar aos mais novos como eram os tempos em que o comboio era o principal meio de transporte. “Havia muita gente a fazer a viagem entre o Pocinho e Duas Igrejas. A linha do Sabor tinha muito movimento”, conta.
A beleza das paisagens e a lentidão da automotora é recordada, com saudade, por Maria Fernanda Marcos, de 47 anos. “Era lindo. O comboio tinha aquelas varandinhas, então havia muita gente que gostava de ir ali para ver a natureza. Nas subidas até havia quem descesse do comboio para ir às uvas e quando voltavam ainda conseguiam apanhar a última carruagem”, lembra esta habitante.
A par das memórias do comboio, quem passar por Duas Igrejas pode, ainda visitar o património histórico que caracteriza a freguesia. A curiosa gruta com vestígios de arte rupestre, designada “Abrigo da Solhapa”, o santuário da Senhora do Montes, os cruzeiros ou as fontes antigas fazem parte do roteiro da freguesia, que engloba, ainda, Cércio, Vale de Mira e a Quinta do Cordeiro.
Com cerca de 800 habitantes, esta freguesia, que dista cerca de 10 quilómetros da sede de concelho, tem como principal fonte de riqueza a agricultura, mas também há carpintarias, empresas de construção civil, comércios, uma exploração de granitos e uma oficina mecânica, que dão emprego a algumas pessoas.
Por: Teresa Batista
1 comentário:
Não se esqueçam que também têm na vossa terra o mais prestigiado grupo folclórico e de pauliteiros de Tras-os-Montes, quiçá de Portugal.
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